Mulher: uma luta constante pelo reconhecimento na sociedade
Elis Regina Santos de Sousa Marques construiu uma trajetória marcada pelo talento e pela determinação. Sua busca pelo reconhecimento refletiu-se não apenas em sua carreira, mas também na maneira como enfrentou desafios pessoais e profissionais. Nascida em Bacabal, no estado do Maranhão, Elis Regina mudou-se para Rondônia aos oito anos de idade com sua família.
Seu pai, José Henrique, veio primeiro, e, posteriormente, o restante da família se juntou a ele. Apesar das raízes maranhenses, Elis se considera rondoniense. A infância foi marcada por desafios: a perda precoce do pai fez com que precisasse ajudar sua mãe, dona Azeide, nas tarefas domésticas. Desde cedo, Elis demonstrou interesse pelos estudos. “Sempre gostei de estudar”, afirma.
Concluiu o ensino médio e formou-se no Magistério pela Escola Carmela Dutra, porém sempre sonhou em cursar Pedagogia. Ao longo da vida, trabalhou como professora em quatro escolas e exerceu diversas funções em diferentes setores. Foi carpinteira na Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, enfrentando o sol escaldante e o desgaste físico, o que a impediu de ingressar na faculdade naquele momento. Também atuou como cobradora de ônibus e babá. Com o casamento e a chegada dos filhos, a família tornou-se prioridade, e os estudos ficaram em segundo plano por um período.
Hoje, aos 53 anos, mãe de três filhos, Elis é acadêmica do curso de Manutenção e Suporte em Informática e concluirá a formação no final do ano. Seu próximo objetivo é cursar Análise e Desenvolvimento de Sistemas no IFRO Campus Calama. Ela reconhece as dificuldades que enfrenta em comparação aos jovens de 17 a 20 anos, que possuem mais facilidade para aprender, mas mantém a determinação e deseja se especializar no desenvolvimento de programas de informática.
Em sua trajetória, também enfrentou a discriminação racial. Durante uma entrevista para uma vaga em uma escola, ao perceberem que ela era uma mulher preta, a diretora negou a existência da oportunidade. “Logo numa escola!”, recorda-se, sentindo o amargo do preconceito. As mulheres negras representam a maior parte da população brasileira, somando mais de 60 milhões, o equivalente a 28,5% do total, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). No entanto, enfrentam desigualdades em vários aspectos da vida, como menores salários em comparação às mulheres brancas, baixa representatividade política (menos de 1% na Câmara dos Deputados) e maiores taxas de desemprego.
Na educação, a população adulta negra sem ensino fundamental completo ainda é significativamente maior do que entre os brancos, apesar de um dos “Objetivos do Milênio” ser o de oferecer educação básica e de qualidade para todos. Em novembro de 2024, o Brasil também apresentou o 18º Objetivo do Desenvolvimento Sustentável (ODS), com a finalidade de combater o racismo estrutural e promover um desenvolvimento verdadeiramente inclusivo para pessoas de todas as raças e etnias. Elis Regina é um exemplo da realidade de muitas mulheres brasileiras, que lutam para equilibrar família, trabalho e educação. “Hoje em dia, tô mais guerreira, né? A gente é perseverante”.
Ela sempre incentivou seus filhos – Michele, Douglas e Diogo – a persistirem nos estudos. A filha é Técnica de Enfermagem e estuda para se tornar Enfermeira. O filho do meio não está estudando no momento, e o mais novo está ingressando no serviço militar. “Estudem, porque o mundo é cruel. Eu perdi meus pais cedo e sei o impacto que isso tem. Incentivo meus filhos a estudarem para conquistarem uma vida melhor”, enfatiza.
Há cerca de três anos, Elis começou a trabalhar na empresa que presta serviços ao Campus Calama do IFRO, onde se sente respeitada e valorizada. “Aqui é um ambiente escolar, as pessoas tratam todos com respeito e igualdade. Sinto que há empatia”, relata. Além disso, recebeu apoio da instituição por meio dos auxílios para permanência (Proap) e do Programa de Atenção à Saúde e Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão (Prosapex), que lhe proporcionou aviar os óculos e que foram significativos para a sua permanência na escola.
Outro destaque que faz é sobre o incentivo que recebe dos professores. “Eles me ajudam muito. O antigo diretor, Leonardo, sempre me cobrava: 'E aí, tá terminando? Já passou? '. Esse tipo de incentivo faz diferença”. E cita que professores e outros colegas de curso também a motivam a continuar.
A rotina de Elis continua intensa. Acorda às cinco da manhã para trabalhar e, em seguida, permanece no campus para assistir às aulas. Quando chega em casa, por volta das onze da noite, ainda prepara a alimentação para o dia seguinte. “Tomo banho aqui mesmo e sigo até o fim do dia. Meu marido, Francisco de Assis, me apoia muito. Ele sempre pergunta: 'Será que tu vai aguentar? '. E eu sigo, até quando puder”.
Representante da comunidade interna do IFRO Calama, Elis Regina mostra a força e a resiliência de muitas mulheres brasileiras. Como mulher, esposa, mãe, professora, auxiliar de serviços gerais e acadêmica, sua mensagem para outras mulheres é de otimismo e perseverança: “Não desistam nunca. A única coisa que levamos para a vida é o conhecimento. Podemos perder tudo – dinheiro, emprego – mas o conhecimento ninguém tira de nós. O que aprendemos, carregamos para sempre. E, se quisermos, podemos compartilhar, porque isso ninguém nos rouba”.
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