Acadêmicos de Engenharia Civil do IFRO Calama pesquisam a utilização de fibras vegetais amazônicas em argamassas de revestimentos
Acadêmicos do Curso de Engenharia Civil do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (IFRO), Campus Porto Velho Calama, estão pesquisando a incorporação de fibras vegetais amazônicas em argamassas de revestimentos para a construção civil.
A Engenheira Civil Valéria Costa de Oliveira, professora do curso e orientadora dos projetos, explica que as fibras vegetais são inicialmente tratadas com produtos que auxiliem na durabilidade desses materiais. Em seguida, “o comprimento ideal da fibra, dependendo da origem, precisa ser avaliado de forma a garantir o desempenho quanto às propriedades mecânicas e absorção de água, uma vez que as argamassas são materiais porosos e trabalham em conjunto com substratos cerâmicos e de concreto”. Segundo ela, nas argamassas de revestimentos “as fibras são misturadas com o aglomerante, agregados miúdos e aditivos plastificantes e são avaliadas no estado fresco quanto à trabalhabilidade, densidade e teor de ar incorporado. No estado endurecido, as análises são tração na flexão, absorção de água e aderência das argamassas em diferentes substratos”.
A professora explica que, na pesquisa inicial, é utilizado um hidrorrepelente à base de silano-siloxano (produto derivado da molécula de silicone) aplicado nas fibras secas. Contudo, outros produtos necessitam ser testados, tais como a sílica ativa e metacaulim, esclarece.
Sobre as experiências que já foram feitas, Valéria diz que, até agora, os ensaios realizados foram em argamassas e solos. Os resultados foram apresentados em dois Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs) dos alunos da graduação em Engenharia Civil.
O objetivo geral dos estudos foi o de apresentar as metodologias técnicas e científicas de caracterização do desempenho das fibras vegetais nas propriedades das argamassas de revestimento e reforço de solos amazônicos. No ano de 2023, os resultados demonstrados das pesquisas foram apresentados de forma introdutória, inclusive na Feira Rondônia Rural Show. Em 2024, o objetivo foi demonstrar as técnicas desenvolvidas no IFRO para a caracterização das fibras vegetais quando aplicadas em materiais cimentícios e como reforço de solos.
Segundo a docente, ainda tiveram uma segunda proposta dos alunos em desenvolver pesquisas em cenários de tratamento de resíduos da construção civil, uma situação carente em Porto Velho - RO. Os alunos da graduação em Engenharia Civil necessitam do incentivo no desenvolvimento de trabalhos acadêmicos que atendam às demandas do estado de Rondônia, bem como da Região Amazônica.
Três alunos apresentaram a disponibilidade em desenvolver os temas: “Metodologias técnicas e científicas de caracterização do desempenho de fibras vegetais na construção civil” e “Análise de viabilidade técnica para implantação de ecoponto na cidade de Porto Velho – RO”. Nesse sentido, ela acredita que houve uma boa receptividade e foi cumprido o papel dos Institutos Federais que atuam em ensino, pesquisa e extensão.
O período de suspensão do calendário acadêmico acarretou o contato não presencial com os alunos e, ainda assim, na forma de contato remoto, eles conseguiram produzir os banners e apresentar os trabalhos no evento. “Ainda temos muito a avançar nas pesquisas com as fibras vegetais e de vidro e necessitamos de alunos que abracem a proposta”, acrescentou.
Fibras de vidro
As fibras de vidro são comercializadas de forma industrial e utilizadas na construção civil, “contudo, do ponto de vista estrutural, não temos uma norma brasileira e esta é a nossa intenção em contribuir na elaboração das diretrizes de uso do material em substituição ao aço. A China, por exemplo, já emprega o bambu nas edificações”, informa Valéria.
“As fibras de sisal e coco também são comercializadas de forma industrial e são empregadas em produtos da construção civil, ou seja, os desempenhos destes materiais são comprovados. Já as fibras de tucumã, curauá (uma espécie de bromélia amazônica), buriti e açaí, apesar de estudos na área, ainda necessitam de empreendedores para sua produção no segmento industrial”, argumenta a professora.
Alternativa sustentável com recursos renováveis
Associando a necessidade de se obter meios para o reaproveitamento dos resíduos do fruto, principalmente as fibras, à necessidade de novas fontes economicamente viáveis para aplicação aos materiais cimentícios, vem-se estudando cada vez mais a utilização das fibras de coco, açaí, tucumã, curauá em argamassas, concretos e forros de gesso.
Outra abordagem, de acordo com a docente, é que as fibras vegetais, além de serem uma alternativa sustentável (material orgânico), são também recursos renováveis com diversas aplicações, incluindo a construção civil no ramo da geotecnia, sendo usadas como soluções temporárias de estabilização do solo e para controle de erosão, entre outros.
O reforço do solo com fibra vegetal possui várias vantagens ambientais significativas, incluindo a redução do uso de fontes de energia e materiais não renováveis, além de baixas emissões de poluentes.
E para fibras, como as de coco e açaí, que são provenientes dos resíduos, a incorporação de fibras em atividades da construção civil pode contribuir significativamente para o reaproveitamento sustentável desse material. Esse desempenho ambiental é um fator importante para aumentar a utilização futura de compósitos com fibras naturais.
Carlos Eduardo da Silva Monteiro Barbosa, acadêmico de Engenharia Civil, participou da exposição das fibras na Rondônia Rural Show e explicou o projeto por meio de banner, destacando a utilização das fibras do abacaxi da Amazônia ou curauá e do açaí, que são reutilizáveis e são materiais que seriam descartados. Ele falou bastante empolgado pelo desenvolvimento da pesquisa. “Reutilizando as fibras, diminui-se o processo de descarte e queima delas, com isso, diminuindo o impacto negativo ao meio ambiente”, alerta o acadêmico.
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