Instituto Federal de Rondônia

Política de inclusão contribui na formação de aluno da Pós-Graduação em Gestão de Instituições Públicas

O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (IFRO), Campus Porto Velho Zona Norte, está certificando o estudante Emerson da Silva Bezerra, matriculado na Pós-Graduação Lato Sensu Master Business Administration em Gestão de Instituições Públicas. Estudante com necessidade educacional específica, Emerson ingressou em 2020 na instituição.

No primeiro semestre de 2020, houve a suspensão das aulas presenciais durante a pandemia covid-19, o que acarretou atrasos em seu processo de atendimento específico e, por consequência, de aprendizagem. “Além dos desafios por ser um aluno com deficiência visual, que precisa de métodos diferenciados de estudo, como escritas em Braile, adaptações em materiais de estudos e avaliações adequadas as suas necessidades. A pandemia trouxe também dificuldades de acesso à infraestrutura do campus e ao Napne (Núcleo de Atendimento as Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas), setor que orienta e auxilia alunos com necessidades especiais, devido ao decreto, a instituição teve que encerrar suas atividades presenciais, permanecendo somente atividades on-line. Apesar de o Emerson ter se inscrito no curso totalmente a distância, o campus por meio do Napne dava todo o suporte presencial ao aluno”, conta a Professora Mediadora, Vanessa Barbosa Barbosa.

Ressaltando as dificuldades e os preconceitos que passam as pessoas com deficiência, Emerson explica que entre seus planos estão continuar a se capacitar e utilizar profissionalmente esse conhecimento para montar um projeto ou uma organização que atenda a outros deficientes. O desejo dele é de que outros possam ter a mesma oportunidade ou até melhor que ele teve, organizando na sociedade ações referentes à educação e profissionalização.

Sobre ter estudado esses últimos dois anos no Instituto Federal de Rondônia ele conta que foi excelente, pois “o IFRO se colocou à disposição de me receber de braços abertos e de me colocar a aprender. Foi excelente ter pessoas que direta e indiretamente me apoiaram. E a dificuldade, como a gente não tem visão, é muito complicado, porque sempre acontece algo que nos atrapalha: na questão de leitura, de utilizar um sistema de e-mail ou de site para entrar, de acessibilidade”.

Conforme o agora pós-graduado, foi de suma importância ter esse apoio e essa logística para auxiliá-lo. “Sou muito grato ao que puderam fazer por mim, pela sensibilidade que tiveram me ajudando na compreensão, adaptação dos conteúdos e materiais de modo geral e também da forma como fizeram comigo, a distância, tirando o tempo de vocês, isso para mim foi muito importante”.

Para finalizar, Emerson diz ser agradecido pela “ajuda da Tamires, da Professora Vanessa e de todos os que que puderam contribuir com a oportunidade de ter feito esta pós com uma acessibilidade que não tem comparação a tudo que eu fiz no ensino fundamental ou médio, na graduação. Para mim, estou muito grato, que não tenho nem como descrever essa felicidade. Espero que assim como eu, outros deficientes tenham essa oportunidade e possam ter essa felicidade de chegar num curso de graduação, de pós ou qualquer outro e possam se sentir grato, como estou me sentido, pelo IFRO ou qualquer entidade que possa abrir as portas”.

Conclusão e certificação

A Coordenadora do Núcleo de Atendimento as Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas (Napne/IFRO/Zona Norte), Tamires Gomes de Assis Gonçalves, relembra que no início de 2020, pouco antes da suspensão das atividades presenciais em virtude da pandemia da covid-19, o campus recebeu o estudante do curso de pós-graduação que é ofertado totalmente a distância. “No primeiro momento, o Napne, juntamente com a Coordenação de Curso e o Revisor Braile, convidaram o estudante para uma conversa para conhecermos melhor o aluno e suas necessidades, bem como saber como poderíamos disponibilizar acessibilidade ao curso da melhor forma possível. Após a conversa, decidimos junto com o aluno que a melhor forma de prestar acessibilidade seria de maneira presencial na sala do Napne, onde teria à sua disposição um computador com a instalação de um programa para realizar a leitura de tela, bem como um membro do Napne para auxiliá-lo. Porém, alguns dias depois todas as atividades foram suspensas em virtude da pandemia e infelizmente não foi possível continuar com os acompanhamentos presenciais ao aluno”.

Como as aulas não voltaram rapidamente ao presencial, outra ação precisou ser planejada para atendimento. “Ficamos algum tempo esperando para vermos se as atividades voltariam à normalidade, visto que o estudante tinha preferência pelo atendimento presencial e, quando ficou claro que não retornaríamos tão cedo às atividades presenciais, foram realizadas as adaptações para que o aluno Emerson pudesse continuar seus estudos de maneira virtual”.

Tamires conta ainda que com o apoio dos professores e da Coordenação de curso foi possível realizar as adaptações nos conteúdos e avaliações, de forma que ficasse melhor para leitura em programas de leitor de tela, contribuindo para que o estudante Emerson Bezerra conseguisse concluir com êxito seu curso em 2021. “Fico muito feliz de ter colaborado nesse processo de inclusão do Emerson e principalmente por acompanhar seu esforço em realizar os estudos e avaliações, muitas vezes debilitado com problemas de saúde, mas com perseverança e determinação fechou até o fim e logrou êxito recebendo seu certificado de conclusão. Desejo sucesso profissional e pessoal ao Emerson e que seu exemplo possa inspirar outros estudantes a não desistirem diante das dificuldades que uma necessidade específica muitas vezes impõe”. 

Especialização

O Curso de Pós-Graduação MBA em Gestão de Instituições Públicas visa habilitar os discentes para atuarem como gestores de instituições públicas, buscando desenvolver competências para liderar, articular, gerir e pensar de forma estratégica e inovadora a ação governamental, considerando os desafios e as perspectivas da administração pública federal, estadual e municipal, contribuindo para o aperfeiçoamento dos serviços prestados à sociedade. Ofertado na modalidade a distância, o curso possui carga horária de 360 horas (o prazo para integralização do curso é de 12 a 18 meses), oferecendo habilitação em Especialista em Gestão de Instituições Públicas.

A Professora Mediadora, Vanessa Barbosa, explica que no caso do Emerson, junto com a gestão da pós-graduação e professores do curso, foi reestabelecida uma nova metodologia, criando um novo ambiente virtual para auxiliar no processo de aprendizagem, possibilitando a conclusão do curso de forma eficaz. “Como professora mediadora da turma, assumi o papel de auxiliar o aluno no processo e mediar a relação entre professor – conteúdo das disciplinas – avaliações.  Neste processo percebi as dificuldades do aluno na interação no ambiente virtual, percebemos o quanto temos que melhorar na estrutura de acessibilidade no AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem), pois, como ter acesso, como manusear, ou entrar em tópicos e links? Quando a deficiência visual limita a capacidade de ver, ainda mais no caso do Emerson por ser um aluno totalmente cego”.

Foi realizada a reestruturação do ambiente virtual, para registro e inserção dos materiais adaptados pelos professores, foram realizadas gravações de áudios dos materiais e das avaliações, e enviados ao aluno via WhatsApp, ferramenta mais acessível para manuseio, conforme informado pelo próprio aluno. “Quanto as avaliações eram realizadas via Google Meet, com participação da Coordenadora do Napne, Tamires Gomes, e por mim, sua professora mediadora, em que era gravada e depois salva em seu Ambiente Virtual de Aprendizagem. Após a utilização de aplicativos de leitura, foram adequados materiais no formato PDF, facilitando a leitura por aplicativos de acessibilidade para leitura de tela pelo celular, assim o aluno conseguiu realizar os estudos de todas as disciplinas do curso”.

“Neste processo de aprendizagem, o aluno Emerson demonstrou sua determinação, coragem e superação. Percebi seu interesse no processo de aprendizagem e as dificuldades que enfrentava no dia a dia, não só de saúde, mas também pelo fato de morar sozinho, e da necessidade de ter alguém para apoiá-lo em determinado momento. Foi uma experiência nova para mim, pois também aprendi muito com o Emerson, e percebi a importância da empatia, e como podemos ajudar a mudar o processo educacional e romper barreiras de uma educação engessada. Quero agradecer pela oportunidade de vivenciar este momento de aprendizagem, dedicação e recebimento da entrega da certificação ao aluno Emerson”, conclui Vanessa.