Instituto Federal de Rondônia

  Feira de Troca de Sementes Crioulas é realizada em Colorado

A primeira Feira de Sementes Crioulas foi realizada no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (IFRO), Campus Colorado do Oeste, no dia 31 de agosto. O evento contou com palestras, troca de sementes, relatos de experiências e a mesa-redonda “Os desafios das Produções - Plantas PANCs ( Plantas Alimentícias Não Convencionais); Agroecologia; Orgânica e Banco de Germoplasma”. Entre os encaminhamentos finais da Feira ficou definida a realização de uma nova edição do evento no próximo ano.

Segundo o líder do Grupo de Pesquisa de Tecnologias para o Manejo de Agrossistemas Tropicais (TMAT), Marcos Aurélio Anequine de Macedo, o público foi diversificado, “totalizando cerca de 550 participantes. Além de alunos de cursos técnicos e de graduação dos campi Colorado do Oeste e Cacoal do IFRO, contamos com a presença de 78 produtores rurais com suas famílias e estudantes de cinco escolas rurais de Colorado do Oeste e uma de Cabixi. Foi muito gratificante propiciar a verdadeira troca de conhecimento entre gerações que ocorreu no evento, além de destacarmos a importância da semente crioula na soberania alimentar”.

Na palestra de Anselmo de Oliveira Duarte sobre “A Importância da Semente Crioula na Soberania Alimentar” foi ressaltado que as sementes crioulas significam a “continuidade de nossa cultura, de nossas experiências dos ancestrais. Toda semente guarda uma história de vida e de luta de um povo pela sobrevivência. Sem a semente crioula, uma comunidade não teria possibilidades de manter a vida”. Para Anselmo, a realização da Feira “no espaço importante que o Instituto tem, por possuir muitos estudantes de diversos municípios, ajuda a mostrar esse conhecimento dos camponeses para a juventude. Demonstra ainda quais os fundamentos que se tem no projeto de soberania alimentar e o que as sementes crioulas têm para a soberania, dentro deste projeto que defende a vida e dá qualidade de vida às pessoas e aos animais”.

“A soberania alimentar vai trazer para as famílias condições plenas de definir o que alimentar, como alimentar, com o que alimentar, dentro do que tem possibilidade de produzir em sua propriedade para garantir uma alimentação saudável”, complementa o palestrante.

Conforme Silvano Martim de Bortoli, que vive em um sítio no município de Vilhena em que há dez anos trabalha com homeopatia, “entrei no sistema de agroecologia e na Feira foi possível ter mais um parâmetro, trocando sementes, porque temos dificuldades, as híbridas são caras, e muitas vezes falam que são melhoradas, mas são ‘pioradas’, porque não tem sabor, gosto”. Sobre as atividades e as experiências vistas, ele avalia que “de todas as palestras e do que foi encaminhado sempre levamos algo de bom, sendo sempre importante participar desses momentos”.

O integrante da coordenação do Movimento de Pequenos Agricultores de Colorado do Oeste, Oeliton de Souza, fala que a ideia surgiu da regionalização em Rondônia da feira estadual de sementes crioulas. “Buscamos essa parceria com o Instituto para também atingir os educandos, para poder fazer o debate dos dois campos, o da agroecologia e o da semente transgênica, que está sendo implementado pelo modelo do agronegócio. E teve muito aprendizado para os alunos e para os camponeses, foi muito interessante, porque trazem os relatos, as experiências”, afirma Oeliton.

“A agricultura familiar no Brasil é responsável por 70% da alimentação que vai para a mesa das pessoas, com isso quero resgatar que para nós pequenos produtores produzirmos, precisamos produzir comida de qualidade. E para termos alimentação de qualidade precisamos trabalhar a agroecologia, propondo para a sociedade condições de poder discutir essa agroecologia nos debates, nos seminários e nas oficinas”, diz Oeliton de Souza. 

Sementes Crioulas

As espécies de sementes foram provenientes dos produtores rurais que compareceram ao evento e do próprio IFRO, sendo realizada inclusive a distribuição de mudas de morango adaptadas a região. Essas mudas que foram produzidas através de um projeto desenvolvido no Campus Colorado do Oeste. Na avaliação do professor Anequine, “a troca de sementes crioulas e mudas teve um resultado muito positivo, pois cerca de 70 espécies diferentes foram trocadas, dentre legumes, hortaliças e tuberosas, incluindo variedades de feijão, abóbora e pepino”.

Entre as sugestões para no próximo ano está a de que os próprios agricultores familiares realizem oficinas com os alunos para compartilhar seus saberes. “Todas essas espécies foram catalogadas, sendo identificadas sete famílias botânicas, sendo que amostras delas foram reservadas para o IFRO e farão parte de nosso projeto do Banco de Germoplasma Vivo, objetivando a conservação e multiplicação das Plantas Alimentícias não Convencionais (PANCs). Iremos reproduzir essas amostras para serem distribuídas na próxima Feira e assim aumentar ainda mais a variedade de espécies crioulas para a troca”, conclui o docente.