Colorado promove Roda de Conversa “Vivências dos Povos Originários”
A Roda de Conversa “Vivências dos Povos Originários” foi realizada pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (IFRO), Campus Colorado do Oeste, no dia 16 de abril. Aberta à comunidade acadêmica e ao público externo, a atividade recebeu um público de mais de 80 pessoas. Houve relatos de experiência de estudantes indígenas do IFRO Colorado, além de um momento de apresentação cultural.
Na Roda de Conversa, estudantes convidados inicialmente expuseram suas visões de mundo e relatos de experiência de sua origem indígena e de como está sendo estudar hoje no IFRO. Em seguida, houve um momento de perguntas e respostas, em que o público presente esclareceu dúvidas e curiosidades com os convidados/palestrantes.
Três estudantes foram convidados a falar na Roda de Conversa: Tamires Batista da Silva Sabanê, da etnia indígena Sabanê, aluna do 7º semestre do Curso de Graduação em Zootecnia; Pâmela Silvério dos Santos, do 2º ano do Curso Técnico em Agropecuário Integrado ao Ensino Médio; e Hider Aikanã Sabanê, das etnias Sabanê e Aikanã, acadêmico do 1º semestre de Zootecnia.
Tamires diz ter sido a primeira roda de conversa que participou. “Significou muito para mim esse reconhecimento em relação aos povos indígenas, porque dentro dos quatro anos que estou frequentando o Instituto nunca havia presenciado algo ou um momento para os indígenas”. Para a acadêmica, a “roda de conversa é importante para que haja esse contato de povos diferentes, culturas diferentes e para quebrar tabus de opiniões e conversas contraditórias que muitos não indígenas têm sobre nós”.
Sobre os pontos que compartilhou durante o relato, ela resume dizendo ter o intuito de “passar sobre a minha cultura local, e mostrar que nem todas as etnias são iguais. A dificuldade que temos nos estudos dentro da aldeia, por ser visto como um ensino inferior ao das escolas não indígenas, e o preconceito que enfrentamos em algumas ocasiões. Espero que tenham levado consigo que somos iguais como pessoas, apenas com alguns costumes diferentes, que saibamos respeitar e aceitar as diferenças de cada um”.
Ao final dos relatos, houve um momento cultural. O estudante do 2º ano do Curso Técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino Médio, Rafael Henrique Coelho da Silva, fez a leitura de um texto de sua autoria sobre a visão dos indígenas na época da chegada dos europeus às terras que hoje formam o Brasil. Houve uma leitura da letra da música “Índios”, composta por Renato Russo, que aborda os temas da conquista do Novo Mundo e o processo de dominação dos nativos. Além disso, um grupo de servidores e estudantes do campus tocou ao vivo a música.
O evento foi realizado pela Comissão responsável pela implantação do Neabi (Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas) em comemoração ao Abril Indígena. A Comissão, que conta com apoio da Diretoria de Ensino do Campus Colorado, tem por presidente a Professora de História, Thaíze Ferreira da Luz. Os demais integrantes da Comissão são os professores João Renato Amorim Feitosa, Maria de Fátima de Jesus, Kelly Vieira Cordeiro, Luiza Nascimento Campos, Maria Eduarda da Silva Pereira de Almeida e Rayane Pinho Bezerra.
Segundo os membros, a ideia principal do evento foi a troca entre culturas e conhecimentos, também possibilitando que alguns estereótipos, especialmente os negativos com relação aos povos originários, sejam quebrados. O evento abre espaço de representatividade para as diversas etnias, em especial quando se trata de estudantes do IFRO, visando um melhor acolhimento desses estudantes. Além disso, a data marca um histórico de lutas e resiliência dos povos originários, servindo como momento de reflexão sobre os avanços e os retrocessos relacionados às causas indígenas.
“A participação do público foi muito boa. O miniauditório estava cheio e a interação entre os convidados e o público ouvinte foi ótima. Surgiram muitas perguntas por parte do público presente, majoritariamente formado pelos estudantes do próprio campus, mas também tivemos a presença do público externo. Isso comprova que este tipo de evento é muito pertinente e necessário”, avalia a Professora Thaíze Luz, que completa: “acredito que os costumes e as tradições indígenas foram os temas que mais provocaram questionamentos, mostrando o quanto se tem a aprender com os povos originários, suas tradições, modo de vida, adaptações ao mundo fora do ambiente da aldeia/comunidade. Nesse quesito, destaco o fato de o público presente perceber que antes de mais nada, os povos originários são pessoas como nós – com sonhos, medos, angústias, aspirações”.
Conforme a docente, o evento “foi muito mais significativo na vida acadêmica deles do que qualquer aula de história e cultura indígena que eu, como professora de História, poderia ter preparado. Eu mesma aprendi muito com os convidados. E, como nós fizemos uma discussão prévia em sala de aula sobre a temática indígena e seu modo de vida, muito do que foi trazido pelos convidados foi capaz de sanar questionamentos que surgiram ao longo de nossas aulas”.
A avaliação final é de que o ambiente educacional, por excelência, é um espaço de construção de conhecimentos. “É uma troca constante entre docentes e discentes. É um local plural, com público totalmente heterogêneo. Então, é inadmissível que se tenha qualquer forma de discriminação nesse local. Quando se abre esse espaço de fala e representatividade, estamos dizendo que todos são bem-vindos, que suas ideias e modos de vida devem ser respeitados!”, afirmou Thaíze.
Neabi Colorado
O Neabi (Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas) está em implantação no Campus Colorado do Oeste. De acordo com a Comissão responsável pela implantação do Núcleo, neste primeiro momento, as forças estão concentradas em aprovar a criação na unidade do Neabi e, a partir de sua aprovação, realizar projetos institucionalizados, fomentando a difusão de conhecimento e ações afirmativas para as comunidades indígenas e afro-brasileiras, bem como oferecer um espaço que sirva de orientação para os estudantes. De forma que possam enfrentar dificuldades de adaptação e melhor compreender os sistemas usados no acompanhamento das aulas. “Então, o Neabi também fará esse intermédio, auxiliando no que for preciso. Especialmente com relação aos estudantes indígenas, o objetivo é fazer com que mais jovens se sintam confiantes para dar continuidade aos estudos, seja no curso integrado ou nos cursos superiores”, diz a Presidente Thaíze Ferreira da Luz.
A ideia central dentro do Abril Indígena deste ano foi trazer para os estudantes, comunidade escolar e comunidade externa uma possibilidade de conhecer culturas; hábitos; tradições e os desafios enfrentados pelos povos originários e seus descendentes. “O evento foi construído a partir de reuniões realizadas pelos membros que integram a Comissão e de reuniões realizadas com a Professora Mônica Apolinário, que é responsável pelo Departamento de Educação Inclusiva e Diversidade (DEID). Em fevereiro, nós fizemos uma reunião geral com os representantes dos Neabis e traçamos algumas metas dentro do plano institucional. As comemorações do Abril Indígena estavam entre elas. O evento começou a ser pensado ainda na reunião geral que tivemos em fevereiro. Posteriormente, na primeira quinzena de março, fizemos uma reunião com os membros da Comissão de Colorado. Nela, a Professora Luiza Campos sugeriu uma roda de conversa, fez o contato inicial com a estudante Tamires, que prontamente aceitou o convite, e a partir daí fomos agregando colaborações dos demais integrantes da Comissão. Juntamente com as sugestões da Diretoria de Ensino, organizamos um momento Cultural para encerrar o evento e os colegas professores da banda ‘Quase Certo’ se propuseram a tocar a música ‘Índios’, da banda Legião Urbana. Uma letra atemporal que faz algumas reflexões, dentre elas, injustiças sociais, e que, apesar de ter sido escrita no contexto de reabertura política após a ditadura militar no Brasil, infelizmente ainda se fazem presentes até hoje”, recorda Thaíze.
Um dos objetivos centrais do Neabi é desenvolver programas e projetos com temas sobre relações étnico-raciais em diversas áreas do conhecimento, numa ação integrada e articulada entre ensino, pesquisa, extensão e assuntos estudantis. Promoverá ainda encontros para reflexão e formação da comunidade interna e externa ao IFRO Campus Colorado do Oeste, objetivando o conhecimento e a valorização da história dos povos africanos, das culturas afro-brasileiras, das culturas indígenas e da diversidade na construção histórica, cultural e social do país.
“Certamente, a implantação do Núcleo contribuirá significativamente para que se possa dar voz e conhecer melhor a história de povos que, durante muito tempo, tiveram um apagamento de sua memória enquanto agentes históricos que contribuíram para a construção do nosso país. Por enquanto, ainda não temos e-mail, mas para quem quiser entrar em contato, disponibilizo meu e-mail institucional: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.”, explica a docente.
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