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Sensor instalado no Campus Calama do IFRO mede a qualidade do ar em tempo real

Publicado: Quinta, 27 de Junho de 2024, 15h18 | Última atualização em Quinta, 27 de Junho de 2024, 15h24 | Acessos: 157

Instalação do sensor no Calama

Um projeto de pesquisa desenvolvido pela Bióloga Nathália Araújo, doutora em Biotecnologia, mede a qualidade do ar por meio de um sensor instalado no Campus Calama do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (IFRO). O projeto intitulado ‘Queima de Biomassa na Mesorregião Amazônica Madeira-Guaporé - efeito sobre a saúde humana’ é resultado de uma proposta apresentada ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e foi o único projeto do IFRO aprovado no edital universal no CNPq no ano de 2023.

A professora Nathália Araújo, que leciona Biologia I e II nos cursos do ensino médio integrado, relata que quando começou a escrever o projeto, pensou que teria de escrever algo que tivesse uma importância local para a saúde das pessoas, porque sempre gostou de trabalhar nessa área da Biologia relacionada à saúde. Segundo ela, um grande problema nessa área é a produção de poluição no ar. “A poluição é causada aqui na região, principalmente pelas queimadas de material vegetal, que acontecem principalmente nessa época de seca. Com as queimadas, são gerados poluentes que podem agravar doenças pré-existentes e também provocar novas doenças. Então o projeto nasceu justamente para tentar trazer uma resposta para a sociedade de como essa poluição do ar pode afetar a nossa saúde”, relata Nathália.

Funcionamento do sensor

O sensor instalado com dois metros de altura mede a qualidade do ar em tempo real. Além do sensor, a professora explica que há também um coletor de ar que será instalado em Guajará-Mirim. Segundo ela, o projeto foi pensado inicialmente para Guajará-Mirim, mas expandiu-se para Porto Velho. O coletor vai coletar amostras do ar para que se caracterizem quimicamente quais são os poluentes presentes, para que, desta forma, se possa fazer uma correlação de poluentes presentes no ar e efeitos sobre a saúde. O sensor tem uma plataforma on-line que qualquer pessoa pode acessar e verificar a qualidade do ar em tempo real, só que ele tem uma linguagem que às vezes não é muito clara, até porque o site é em inglês.

Os alunos da Eletrotécnica vão desenvolver uma plataforma em português para que seja possível qualquer pessoa e em qualquer nível de escolaridade conseguir entender o que determinado número de qualidade do ar representa para a saúde dele.

A pesquisa vai realizar ensaios in vitro, que são feitos em laboratório sem a participação humana ou animais, de maneira geral. Também serão recrutados voluntários que tenham interesse em participar para que se possa ver o efeito dessa poluição do ar na saúde do indivíduo. No caso dos indivíduos, para se medir, Nathália explica que existem alguns parâmetros, principalmente para os sistemas cardíaco e respiratório, “porque os poluentes gerados pela queima da biomassa, ou seja, dos vegetais durante a época de queimadas, têm compostos que já se sabe que causam efeitos tanto no sistema respiratório quanto no cardíaco. E o nosso corpo sinaliza, que tem algo errado, então a gente vai buscar por esses sinais”.

Ela explica que também existem marcadores, por exemplo, de inflamação, marcadores químicos, então se pode fazer coletas do sangue, da urina e da saliva do voluntário e fazer uma busca por esses marcadores, verificando se esses marcadores de dano no sistema respiratório e no sistema cardíaco estão presentes ou não. “E, além disso, são feitas avaliações mais genéricas, como por exemplo, medida da pressão arterial, glicemia, medidas antropométricas como peso, altura, dobras cutâneas, porque a gente vai tentar fazer uma correlação também da saúde do indivíduo na época de queima intensa e também na época que não acontece queima. O voluntário participante da pesquisa será acompanhado em dois momentos: no momento em que acontecem as queimadas intensas e no momento de baixa queimada, para a gente poder fazer esse paralelo de como é que está a saúde dele nos dois momentos diferentes do ano”, explica a pesquisadora.

Participantes da pesquisa

A pesquisa conta com a participação de alunos da graduação em Ciências Biológicas, de Guajará-Mirim e alunos de Porto Velho, do curso técnico integrado em Eletrotécnica, que ajudaram a montar o sensor e a interpretar os dados. De acordo com Nathália, o objetivo da pesquisa é gerar dados científicos para que o Sistema Único de Saúde (SUS) e a governança, de maneira geral, possa usar esses dados. Porém, explica que inicialmente a pesquisa não desemboca nisso. “Primeiro, a gente publica artigos, divulga em congressos, para que qualquer pessoa tenha acesso”, explica a professora. “E aí a geração desse conhecimento pode ser usada por prefeitos e governadores, de maneira geral. Mas em nível de alerta, prefeituras e outros órgãos poderiam também ter seus próprios sensores”, complementa.

 Porto Velho conta com três sensores instalados, sendo um no Ministério Público, um no Bairro Boa Esperança e outro no Bairro Pedrinhas. No Ministério Público, por exemplo, esse órgão já tem conhecimento de que é um problema de importância local e inclusive de importância global. A qualidade do ar pode variar em cada região da cidade. “Estamos vivenciando esse momento de crise climática e o bioma amazônico é muito importante”, cita Nathália.

A indústria que produz o sensor criou a escala de 0 a 300, no qual ela vai primeiro de 0 a 50, que é uma qualidade do ar muito boa; 51 a 100, que começa a ficar uma qualidade já comprometida, mas ainda aceitável. E, acima de 100, é uma qualidade do ar ruim, que tem efeitos na saúde humana, se tiver uma exposição prolongada por mais de 24 horas. Essa é uma escala criada pela empresa que desenvolveu o sensor. Mas, por exemplo, a Organização Mundial de Saúde (OMS) usa outra escala, que é em micrograma por metro cúbico. “E o sensor permite que você mude a unidade. Quando a gente muda para a unidade de micrômetro por metro cúbico, aí fica mais fácil correlacionar com o que a Organização Mundial de Saúde preconiza, que o indivíduo não pode estar exposto a uma poluição acima de 15 microgramas por metro cúbico por dia. Então, quando a gente muda para essa escala, fica mais fácil correlacionar com dados mundiais. E o sensor permite que qualquer pessoa possa fazer isso. Entra no site, que é o map.purpleair.com. E aí, nesse sentido, que poderiam gerar os alertas sobre os efeitos negativos do ar contaminado pelas queimadas”, comenta a docente.

 A professora destaca que, apesar do projeto estar nascendo agora, ela vê possibilidades para que ele se ramifique para várias áreas diferentes, podendo trabalhar com professores da Educação Física, podendo ser medido o nível de poluição quando os alunos estão na quadra fazendo atividades físicas. “Também em relação à saúde do servidor, será que também nessa época de queimada aumenta o número de atestados relacionados com saúde respiratória cardíaca? A mesma coisa é fazer um trabalho junto à coordenação de assistência educando. Então, existem várias possibilidades de continuidade, de expansão do projeto”, exemplifica.

O projeto já conta com uma colaboração internacional muito importante, segundo a professora, numa universidade na Suécia chamada Instituto Karolinska, que fica em Estocolmo. “Tem pesquisadores que trabalham há muito tempo justamente com essa área de poluição e efeitos na saúde. Pretendemos conseguir recursos para mandar um aluno para lá para fazer um estágio. E o pesquisador já veio até aqui, já nos visitou, já foi para Guajará-Mirim, onde foi instalado um sensor sobre a administração do ICMBio, que é a Resex Rio Ouro Preto. Foi uma experiência muito interessante conseguir fazer esse intercâmbio entre instituições diferentes, de locais totalmente diferentes e que estão interessados em pesquisar sobre os efeitos da poluição do ar”, pontua Nathália.

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